Bij wijze van uitzondering vandaag een integrale post van een in mijn ogen perfecte en gedegen analyse van alle gebeurtenissen rond de demonstraties tegen de organisatie van het WK Voetbal in de straten van de grote Braziliaanse steden. Het buitensporig en vaak illegaal politieoptreden teneinde de demonstraties te beëindigen. De massale nadruk in de media op de anarchistische black-bloc-beweging en de beeldvorming die daardoor ontstaan, terwijl dit slechts een klein groepje is die helaas de grote vreedzame meerderheid van de demonstranten in een kwaad daglicht zet. De buitensporige aandacht van de politie voor ... vooral de vreedzame demonstranten, terwijl eerder niet tegen het vandalisme van de autonomen werd opgetreden. De eventuele politieke belangen achter het eenzijdig en buitensporig gewelddadig optreden van de politie. De struisvogelpolitiek van de federale overheid.
Black-bloc é apenas detalhe. Diante da paralisia do governo, e das dificuldades dos movimentos sociais, direita flerta com caos
Por
Antonio Martins
28/01/2014
Como 2014 promete emoções fortes… Em São Paulo, por pouco não surgiu,
nas últimas horas, a primeira vítima fatal das manifestações contra a
Copa do Mundo. Fabrício Proteus Chaves, de apenas 22 anos, correu risco
de morte depois de ser baleado sábado, de modo covarde e fútil – no
peito e nos testículos – por policiais militares. O secretário de
Segurança tenta proteger os que atiraram. De Lisboa, a presidente Dilma
Roussef convocou (para fevereiro) reunião de emergência… Porém, o
silêncio, diante dos novos atos brutais cometidos pela polícia paulista
leva a temer que o governo federal manterá, em relação aos protestos, a
atitude de avestruz adotada a partir de outubro. A repressão concentra
as atenções sobre o black-bloc. Mas será ele, de fato, um oponente da
brutalidade do Estado? Ou, pelo contrário, contribui pra radicalizá-la,
ao adotar a violência como arma política e tornar legítima, portanto, a
lógica que sustenta a repressão policial? A seguir, três hipóteses sobre
os últimos acontecimentos.
1. A PM paulista provoca manifestantes e age para criar um fato dramático
Pelo menos duas cenas demonstram que, na manifestação de sábado, a
polícia militar de São Paulo voltou empregar violência gratuita e agir
de forma abertamente provocadora. A primeira são os disparos contra o
jovem Fabrício. Confira as
imagens,
em especial a partir do segundo 00:12. Fabrício não “se atira” contra
um dos policiais (que havia tropeçado), como alega o secretário de
Segurança. Sua queda é claramente precedida pela cena em que outro
policial saca a arma e a aponta para o garoto. A conclusão evidente é
que sofreu o impacto do tiro e caiu. Depois disso, quando já não poderia
representar ameaça alguma, recebeu mais dois disparos, ambos à
queima-roupa. No entanto, sem se dar a qualquer esforço de investigação,
os jornais
sustentam que há “duas versões” sobre os fatos – como se não fosse possível verificar qual delas é verdadeira.
A segunda cena é a ação brutal com que a PM agiu contra manifestantes
que haviam se refugiado no Hotel Linson, na rua Augusta, assustados com
a tropa de choque. Repare, nos dois vídeos. A tropa de choque entra aos
berros,
disparando balas de borracha
dentro do saguão, contra pessoas que não esboçam resistência alguma (muitas deitadas no chão). Depois, ao
conduzirem
os detidos ao camburão, os PMs o fazem aos safanões e “gravatas”,
chutando até mesmo um fotógrafo da Agência EFE que registrava os fatos.
Lembre-se: horas antes, a polícia não havia impedido os black-blocs
de depredar dezenas de vitrines, fazer barricadas de fogo ou virar
contêiners de lixo sobre a rua. Agora, é selvagem contra pessoas
pacíficas. Este
padrão bizarro de comportamento repete-se inúmeras vezes, desde as jornadas de junho. Por exemplo, na
depredação
do terminal de ônibus do Parque Dom Pedro II (25/10) (e também em
outros estados, como no quase-incêndio da Câmara Municipal do Rio, em
7/10). Será apenas despreparo policial?
Ou a PM paulista age orientada por interesses partidários? Nas
eleições presidenciais de novembro, a presidente Dilma tem amplas
chances de vitória. Seus adversários conservadores buscam, para
embaralhar o jogo, um fato – qualquer um – capaz de provocar comoção
nacional. Gente como Geraldo Alckmin, que liderou a destruição do
Pinheirinho, hesitará em reprimir manifestações com violência, se o
ganho político puder ser esta comoção?
2. Obcecado pelo cálculo eleitoral, o Palácio do Planalto adota a estratégia do avestruz
O suspeitíssimo comportamento da polícia de São Paulo poderia ser um
problema menor, se o governo federal fizesse alguns gestos simples. A
presidente Dilma nem precisaria se envolver diretamente. Bastaria que o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, responsável por coordenar a
defesa da segurança pública no território nacional, declarasse, por
exemplo, que está consternado com os tiros disparados contra Fabrício
Chaves; ou que julga descabidos os precedimentos da PM no Hotel Linson. A
polêmica estaria criada. Voltaria ficar claro que há, no universo da
política, visões distintas. Para alguns, as questões sociais são “caso
de polícia”. Para outros, as reivindicações populares precisam ser
recebidas com diálogo, não a bala.
Mas, desde outubro de 2013, houve uma reviravolta no governo Dilma. A
presidente sabe que é acossada por uma mídia hostil. Está, obviamente,
empenhada em se reeleger. Porém, julgou que, para isso, o melhor é
adotar uma
atitude de retranca.
Como um time de futebol preocupado apenas em segurar um resultado, seu
governo abdicou da ousadia. Nada cria. Deixa todas as iniciativas aos
adversários. Torce apenas para que o tempo corra rápido, até outubro.
Talvez não perceba o quanto esta atitude é trágica – porque apaga,
aos olhos da população, as diferenças. Assim como ocorre na Europa, há
anos, surge a ideia de que os políticos são todos iguais,
y no nos representan.
Esta postura contamina, aos poucos, todas as ações do governo
federal. Na Economia, leva a Dilma ao Fórum de Davos, para dizer que o
Brasil curva-se às ideias ortodoxas (leia
análise brilhante
de André Singer). Na resposta às manifestações sociais, provoca o
encerramento do diálogo com os movimentos (ensaiado com sucesso em
junho, mas interrompido em outubro) e a aposta numa
estratégia cuja base é o controle policial.
Ao invés de se manter crítico aos comandos das PMs e aos governos que
as controlam, o ministro Cardozo afaga-os. Anuncia “ações conjuntas”.
Promete “reforços”, “apoio”, “assistência”. Produz-se, então, o cenário
dos sonhos, para os interessados em manter a brutalidade da tropa de
choque e tentar usá-la com fins eleitorais. Eles se convencem de que
poderão continuar a praticar barbaridades. E sabem que estão blindados
pela mídia: qualquer episódio desastroso será jogado na conta do Palácio
do Planalto…
Estão reunidos os ingredientes para um grande desastre político? Não:
falta mencionar a indispensável contribuição dos black-blocs.
3. O Black-bloc reforça exatamente aquilo que diz combater
Desde julho, nenhum movimento social brasileiro obteve, da mídia,
destaque comparável ao black-bloc. Em setembro e outubro, dezenas de
milhares de bancários fizeram uma
greve nacional
como há muito não se via. Durou 22 dias e arrancou dos banqueiros um
reajuste salarial acima da inflação. Jamais chegou às manchetes dos
jornais ou foi destaque nos noticiários da TV. Em novembro, oito mil
famílias ligadas ao MTST – mais que a população de milhares de cidades
brasileiras – ocupam, na zona sul de São Paulo, uma grande área antes
reservada à especulação imobiliária. Lá, organizaram um sistema de
convívio alternativo – na alimentação, limpeza, segurança, creches – que
perdura e cresce. Quase não há reportagens a respeito, apesar do enorme
interesse que despertariam. Mas uma manifestação de 1,5 mil black-blocs
gera
horas na TV e dias seguidos de manchetes.
Num certo sentido, é compreensível. O black-bloc surgiu há pouco, no
Brasil, e novidades atraem; além disso, fogo, fumaça e gente mascarada
são elementos imageticamente fortes. Mas é provável que este não seja o
único fator. Para quem quer multiplicar a repressão contra os movimentos
sociais, nada mais útil que
naturalizar a violência; que
apresentá-la como algo praticado igualmente pelos manifestantes e pela
polícia; que levar a sociedade a aceitá-la ou
desejá-la.
Um vídeo
feito também no sábado, na Praça da República, por onde passou a
manifestação contra a Copa, ilustra isso de modo emblemático. Milhares
de pessoas assistem a um show musical. Um grupo de black-blocs investe
contra o palco, atirando latas de cerveja contra os que lá estão. A
multidão revolta-se. Um dos agressores mascarados começa a ser linchado
pelos populares. Só escapa porque um segurança intervém, extintor de
incêndio em punho. Ainda mais grotesco: o apresentador toma o microfone e
exclama: “tem de dar porrada, mesmo”! É ovacionado pela multidão.
No sábado, os black-blocs produziram, em série, atos de violência
gratuita como este. Diante do Teatro Municipal, hostilizaram os
participantes de uma comemoração dos 460 anos de São Paulo. Testemunhas
dizem que estouraram uma bomba. Investiram contra os policiais, com
rojões e bolas de gude, antes de serem atacados.
Dizem ser radicais contra a opressão do Estado, mas a cena da Praça
da República serve como metáfora do que podem, involuntariamente,
produzir. Ao elegerem a violência como método de luta principal contra o
aparato repressivo, acabam por legitimá-la. São compreendidos pelos que
desprezamos o capitalismo – principalmente por serem jovens e não
temerem expor-se ao risco. Mas que resposta sua atitude despertará,
entre a vasta maioria que está fora de nossas redes sociais endogâmicas?
Até agora, todas as evidências sugerem que não virão aplausos, mas
apoio à ação policial, muito mais violenta: “tem de dar porrada, mesmo”!
* * *
A cinco meses da Copa do Mundo e a nove das eleições, há
algo muito grave na conjuntura brasileira. O governo Dilma assemelha-se
a um grande navio à deriva, que perdeu a bússola política e se orienta
apenas pelo meteoro fugaz das eleições. Os movimentos sociais históricos
atuam – mas não conseguiram, ainda, apresentar uma alternativa de
conjunto, capaz de recompor um horizonte utópico e entusiasmar as
maiorias. Grupos como os black-bloc são, evidentemente, incapazes de
fazê-lo – e seria tolo esperar isso deles. A direita política e
midiática, esta sim, parece saber muito bem o que quer. E está
determinada a alcançá-lo.
Bron: http://outraspalavras.net/brasil/sp-quem-perturba-a-seguranca-publica