donderdag 19 februari 2015

Caio Ferraz, Nanko – Um gigante de alma!



por Caio Ferraz (*)
Estou no Sambódromo, templo máximo da maior festa popular do mundo: o Carnaval. Paro num canto em meio ao encanto dos foliões para prestar uma singela homenagem à um estrangeiro que foi mais brasileiro do que muitos de nós: Nanko G. van Bureen.
Acabei de saber do falecimento de Nanko através de amigos de longa data, entre eles Roberto Pereira. Nanko foi um grande homem, não só no tamanho, mas principalmente na generosidade da alma. Ele foi uma das pessoas que mais me ajudou quando a favela em que nasci e me criei, Vigário Geral, deparou-se com a triste chacina que ceifou 21 inocentes vidas em agosto de 1993. Nos meses e anos posteriores ao massacre, a ONG IBISS, fundada e presidida por ele, foi fundamental para que pudéssemos seguir firmes na reconstrução de uma comunidade abalada pela covardia impetrada por policiais militares do Rio de Janeiro.
Com a morte de Nanko, perdemos nós, os jovens que esta pátria renega diariamente e toda o conjunto do movimento social. Morre um ser humano que um dia os historiadores deste país hão de comparar com outros grandes como Betinho, Dom Paulo Evaristo Arns, Zilda Arns, Irmã Dulce e tantos outros benfeitores.
Este holandês fará muita falta nesta terra de tantos desterrados. Nanko, nós brasileiros, filhos da não-cidadania, os ninguéns, os negros e jovens massacrados todos os dias nos guetos urbanos queremos dizer que você foi um grande ser humano. Tu não viestes a esta pátria como conquistador ou catequisador de almas como outros europeus fizeram. Tu aportastes aqui para nos acalentar, nos acariciar, nos acolher, nos amar. Nada mais justo neste momento do que deixarmos aqui nosso mais profundo sentimento de gratidão pelo que você fez por nós. Queremos que sua família e seus amigos saibam que:
We houden van je!
We love you!
Nós te amamos!

(*) Poeta, sociólogo, nascido e criado na favela de Vigário Geral, fundou e presidiu a ONG Casa da Paz entre 1993 e 1996.