MANIFESTO PELA DEMOCRACIA, SOBERANIA NACIONAL
E DIREITOS DO POVO BRASILEIRO
O Brasil vive dias sombrios. A retirada de direitos, promovida de maneira acelerada pelo
governo de Michel Temer e sua base parlamentar, é parte de um preocupante surto
autoritário. A violência, o ódio e a intolerância disseminados nas redes sociais, incitados por
estratégias de comunicação da mídia tradicional, se arrogam a pretensão de pautar a agenda
política nacional, tratando o Estado Democrático de Direito como se fosse apenas um
empecilho anacrônico em seu caminho.
O assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, foi o
episódio mais dramático dessa espiral de violência, embora não tenha sido o único. O
atentado contra a caravana do ex-presidente Lula, no Paraná, por seu evidente caráter
miliciano; e sua posterior prisão, para a qual contribuíram diferentes operadores de direito
que priorizaram clamores orquestrados por parte da opinião publicada, relativizando
direitos constitucionais que lhe assistem, são fatos gravíssimos. Tais fatos fazem parte de um
mesmo enredo, no qual as conquistas populares obtidas no processo constituinte de 1988
são consideradas excessivas por uma elite conservadora e reacionária, cabendo assim a
implementação de um “programa corretivo”, no qual o progresso possa ser desvencilhado
da obrigação política de diminuir as desigualdades que ainda assolam o Brasil.
As forças políticas e institucionais que operam a implantação desse programa do atraso
querem cravar, na própria legalidade, a prerrogativa de abandonar pelo caminho os mais
pobres, destituindo as amplas maiorias sociais do direito à cidadania. Diante desses fatos,
torna-se urgente um maior diálogo entre todos os setores sociais comprometidos com a
liberdade, a democracia e os direitos sociais. É hora de reunir partidos, entidades da
sociedade civil, movimentos sociais, professores, cientistas, operadores do direito, artistas,
líderes religiosos, dentre outros, para articular a resistência democrática aos atentados
contra a democracia e o estado de direito.
A articulação desses atores deve se basear em três eixos fundamentais. O primeiro é a
defesa intransigente das liberdades democráticas, dos direitos políticos e de eleições livres.
Os rumores sobre a possibilidade de cancelamento do calendário eleitoral devem ter como
resposta a defesa enérgica de eleições democráticas e livres. O segundo refere-se ao
enfrentamento intransigente da violência disseminada pela extrema-direita. A democracia
não pode conviver com milícias armadas, ameaças de morte, atentados ou assassinatos. É
hora de dar um basta à violência, atuando em todas as instâncias possíveis, para alcançar e
punir os responsáveis por disseminar e incitar o ódio e a intolerância, bem como os
responsáveis pelos crimes contra lideranças políticas, que chocaram o país.
O terceiro eixo desta unidade está na defesa dos direitos sociais, da soberania e do
patrimônio nacional. Como já indicamos, a violência disseminada pela extrema-direita e os
ataques à democracia compõem um programa político de setores retrógrados das elites
econômicas, para as quais a civilização se limita a suas próprias conquistas materiais. Por
isso, enquanto aumenta a violência contra os setores populares e democráticos, cresce
também o ataque aos direitos sociais e à soberania, como demonstram as retiradas de
direitos como a reforma trabalhista, a tentativa de aprovação da reforma da previdência, de
privatização da Eletrobrás, e o relaxamento entreguista das normas de direito ambiental e a
implementação de uma agenda econômica rentista que dá total prevalência aos lucros cada
vez maiores do sistema financeiro.
É hora, portanto, de defender a democracia, com a energia dos que sabem de suas virtudes
e estão cientes da ameaça representada não apenas por um programa autoritário, mas por
uma plataforma política avessa à civilização.
Os partidos que subscrevem esse manifesto convocam todos os setores sociais
comprometidos com os valores democráticos à formação de uma ampla frente social. Essa
frente, que não tem finalidades eleitorais, buscará estimular um amplo debate nacional
contra o avanço do ódio, da intolerância e da violência. Só assim poderemos reconstruir um
Brasil soberano e de respeito absoluto ao estado de direito.
Carlos Lupi
Presidente Nacional do PDT
Carlos Siqueira
Presidente Nacional do PSB
Edmilson Costa
Secretário Geral do PCB
Gleisi Hoffmann
Presidenta Nacional do PT
Juliano Medeiros
Presidente Nacional do PSOL
Luciana Santos
Presidenta Nacional do PCdoB
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